As principais teses sobre retiradas periódicas da carteira de aposentadoria estão relacionadas a estratégias para garantir que os aposentados possam sustentar seus gastos ao longo da aposentadoria, preservando o capital por um tempo suficiente para cobrir o restante da vida. Essas teses giram em torno de como fazer retiradas de forma sustentável e equilibrada. Aqui estão algumas das mais relevantes:
1. Regra dos 4%
A tese mais amplamente citada é a Regra dos 4%, popularizada por estudos de William Bengen. Segundo essa regra, um aposentado pode retirar 4% do valor total da carteira no primeiro ano de aposentadoria e, a partir daí, ajustar o valor retirado anualmente para a inflação. A ideia é que essa abordagem possibilite que o portfólio dure cerca de 30 anos, em condições normais de mercado. No entanto, críticos argumentam que mudanças nas condições de mercado, como juros baixos e longos períodos de baixa nos mercados, podem tornar essa regra mais arriscada.
2. Método de retirada constante
Aqui, o aposentado retira um percentual fixo da carteira a cada ano, independentemente do valor da carteira. Por exemplo, se a taxa de retirada anual for de 5%, ele retirará 5% do saldo atual da carteira todos os anos. Esse método ajusta a retirada de acordo com o desempenho da carteira, proporcionando flexibilidade em momentos de queda no mercado, mas também pode levar a variações significativas na renda anual, o que pode ser arriscado para aposentados que necessitam de estabilidade.
3. Método de retirada baseado em RMD (Required Minimum Distribution)
Essa abordagem é usada em certos países como os Estados Unidos e envolve retirar uma proporção da carteira com base na expectativa de vida restante, ajustada anualmente. Isso garante que a pessoa não esgote a carteira antes de sua morte. É considerado mais flexível e ajustado ao tempo de vida, mas também pode levar a retiradas maiores em idades avançadas.
4. Método Guyton-Klinger (ou Regras Adaptativas)
O método Guyton-Klinger sugere ajustes mais dinâmicos para as retiradas com base no desempenho do mercado. Há “regras de segurança” que orientam as retiradas:
- Se a carteira tiver um bom desempenho (acima de um certo limiar), o aposentado pode aumentar suas retiradas.
- Se a carteira tiver um desempenho ruim (abaixo de um limite), as retiradas podem ser reduzidas para preservar o capital.
Esse método é mais adaptável às condições de mercado, mas pode exigir ajustes significativos no estilo de vida ao longo da aposentadoria.
5. Abordagem de Teto e Piso (“Floor and Ceiling Approach”)
Nesta estratégia, o aposentado estabelece limites máximos e mínimos para as retiradas. Ele aumenta as retiradas quando a carteira tem bom desempenho, mas não ultrapassa o teto. Da mesma forma, em períodos de mercado ruim, as retiradas são reduzidas, mas não caem abaixo do piso estabelecido. Isso proporciona alguma flexibilidade, mas com uma certa segurança de não reduzir muito o nível de vida.
6. Método da Renda Essencial e Discricionária
Nesse modelo, os aposentados dividem suas despesas em duas categorias: essenciais (aluguel, alimentação, etc.) e discricionárias (viagens, lazer). Eles asseguram que os gastos essenciais sejam cobertos por uma fonte de renda estável (como anuidades ou previdência pública), enquanto usam a carteira de investimentos para cobrir os gastos discricionários. Essa abordagem permite maior segurança para necessidades básicas, enquanto a volatilidade da carteira impacta mais os gastos não essenciais.
7. Método de Safras (Bucket Strategy)
Nesse método, a carteira é dividida em “baldes” de tempo:
- Um balde para curto prazo (1-5 anos), que contém ativos mais seguros como caixa ou títulos de renda fixa.
- Um balde para médio prazo (5-10 anos) com ativos mais moderadamente voláteis, como títulos e algumas ações.
- Um balde para longo prazo (10+ anos) investido em ações de maior risco. Essa estratégia tenta mitigar o risco de retirada durante períodos de baixa no mercado, já que o aposentado pode sacar dos baldes de curto prazo sem precisar vender ativos arriscados em momentos de queda.
8. Retiradas Baseadas em Ciclo de Vida
Neste modelo, as retiradas são ajustadas com base na fase da vida em que o aposentado se encontra. A ideia é que os gastos no início da aposentadoria tendem a ser mais altos (devido à saúde e estilo de vida ativo), enquanto na meia aposentadoria os gastos podem cair, e no final da vida os custos podem aumentar novamente por conta de cuidados de saúde. Essa tese defende um ajuste nas retiradas conforme a necessidade de cada fase.
9. Retirada Dinâmica Baseada em Probabilidades (Dynamic Probabilities Approach)
Aqui, as retiradas são ajustadas de forma dinâmica com base em simulações probabilísticas (como o método de Monte Carlo). As retiradas podem ser aumentadas ou diminuídas dependendo da probabilidade de esgotamento da carteira ao longo do tempo. Se as condições forem favoráveis, o aposentado poderá aumentar as retiradas; se forem desfavoráveis, ele reduzirá para preservar o capital.
Considerações Finais
Cada método tem suas vantagens e desvantagens, e a escolha depende de fatores como o nível de risco que o aposentado está disposto a aceitar, suas necessidades de renda, longevidade esperada e condições de mercado. Idealmente, uma combinação dessas estratégias pode ser utilizada para criar um plano de retirada sustentável e eficiente.